Por que Davi apoiou o pedido dos gibeonitas para matar os sete filhos de Saul? – 2Samuel 21:1-9 (junho/2012)

O próprio texto responde, mas não especifica explicitamente qual a base legal para tal decisão. Para responder a sua pergunta, temos que compreender a natureza do crime de Saul e, a lei aplicada em tais casos. Isso requer a revisão de algumas informações do contexto e discutir o fator legal.

1. Um pouco do Contexto: Os gibeonitas eram cananitas que durante a conquista dos israelitas sob a liderança de Josué, resolveram se entregar com medo de serem exterminados. Após dizerem a Josué que haviam ouvido a fama do seu Deus, expressaram o desejo de fazer um acordo de paz. Quando perguntaram de onde eles vinham, enganaram os israelitas dizendo que vinham de uma terra distante e que simplesmente queriam ser seus servos (Josué 9:7-11). Na verdade, eles moravam há uma pequena distância ao noroeste de Jerusalém. Sem consultar o Senhor, os israelitas fizeram aliança de paz com o gibeonitas e preservaram sua vida (Josué 9:14-15). Três dias depois, descobriram que foram enganados. Não podiam, porém, fazer mais nada a respeito, pois, como parte da cerimônia da aliança, haviam feito um juramento diante do Senhor de que poupariam os gibeonitas, os quais habitariam com os israelitas como seus servos.

2. Natureza do Crime: Vários séculos mais tarde, Saul decidiu desfazer a aliança com os gibeonitas. Segundo aquele povo, Saul foi o homem que “quase nos exterminou [kalah] e que pretendia destruir-nos [shamad]” (2Samuel 21:5, NVI). O verbo hebreu kalah significa “pôr fim”, que no contexto expressa a ideia de acabar com eles. O verbo shamad confirma a ideia enfatizando a tentativa de destruí-los totalmente. O escritor bíblico confirma essa acusação declarando que Saul “havia tentado exterminá-los [nakah, para infligir um golpe de morte]” (2Samuel 21:2, NVI). Saul fez isso “em seu zelo por Israel e Judá”. Assim, por razões nacionalistas, Saul era culpado de tentativa de genocídio. Davi tomou conhecimento dessa situação após consultar o Senhor a respeito da fome que havia afligido Israel por três anos. Ele chamou os gibeonitas e lhes perguntou o que poderia ser feito para reparar o erro de Saul e sua família. Esse era um caso de culpa de sangue.

3. Fundamentos Legais: Na Bíblia, culpa de sangue ocorre quando a vida de alguém é tirada ilegalmente. Matar sem justificativa muitas vezes era assassinato premeditado. Em tais casos, o sangue da vítima estava nas mãos ou sobre os ombros do agressor que era legalmente responsável por seus atos. Esse derramamento de sangue ilícito contaminava a terra, e a única maneira de purificá-la dessa mancha era por meio do sangue do culpado (Números 35:33). Em alguns casos, um vingador do sangue solicitava legalmente que o crime fosse reparado. Mas, por falta de poder, foi impossível aos gibeonitas levar o rei de Israel à justiça e, consequentemente, o crime foi ignorado (veja 2Samuel 21:4). Foi quando o Senhor tomou o caso deles em Suas próprias mãos e permitiu que a culpa do sangue caísse sobre a terra na forma de um longo período de fome.

O crime cometido por Saul foi ilegal não apenas por não haver uma razão justificável, mas, particularmente, por ter violado um juramento feito diante do Senhor que protegia os gibeonitas. Seu nacionalismo era mais importante para ele que obedecer ao Senhor. Em casos de culpa de sangue, o veredito era claro: Retribuição equivalente – a punição deveria corresponder ao crime (conforme Levítico 24:21-22). A tentativa de genocídio poderia ter resultado no extermínio da família de Saul. Porém, Davi e os gibeonitas concordaram em limitar a extensão da aplicação da lei com a execução de apenas sete descendentes de Saul. Justiça executada. O abuso do poder não é ignorado pelo Senhor, que na Sua bondade, amor e justiça determinou um dia de julgamento quando os crimes da raça humana serão tratados com justiça. Enquanto isso, devemos praticar a justiça e defender os que não podem defender a si mesmos.

Angel Manuel Rodríguez, Revista “Adventist World” – Junho 2012

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14 respostas para Por que Davi apoiou o pedido dos gibeonitas para matar os sete filhos de Saul? – 2Samuel 21:1-9 (junho/2012)

  1. ze disse:

    ninguém explica DEUS… que DEUS lindo e amoroso para com todos,,. pacto não é brincadeira, voto não é brincadeira,,, o que é ligado na terra será ligado no céu.. que possamos pensar e repensar nas decisões que tomamos e fazemos na presença do todo PODEROSO,,, não importa se fazemos com o ímpio o com o santo. DEUS sempre requer fidelidade em nossas decisões.

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  2. Andre disse:

    Mentira, isso foi apenas um subterfúgio de Davi para acabar com qualquer descendente de saul que pudesse reclamar o Trono.

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  3. Edino disse:

    Onde na Torá é permitido que alguém pague pelos pecados alheios, outrossim os gibeonitas eram dotados de grandes atos de feitiçaria, dentre os
    Israelitas não havia feiticeiros, Shaul não matava pessoas por serem apenas gibeonitas, eles viviam e praticavam idolatria. Estas ações de David não tem respaldo na Torá. Vide o próprio Tanach em Ezequiel 18.4 e verás uma reafirmação da Devarin, na qual ninguém morrerá pelo pecado alheio.

    Eles agiram por conta própria, sem consultar ao Eterno!

    O Criador permitiu que tal ação pecaminosa e injusta seguisse seu curso normal, pois, faz parte de Sua soberania dar o livre-arbítrio.

    Até hoje isso acontece, as pessoas podem escolher em fazer o bem, ou o mal, sem que o Criador impeça, sendo uma escolha, o uso do livre-arbítrio!

    Podemos ver que o Criador não ordenou que fossem mortos!

    Também não apoiou a David nessa “matança”!

    Esse ato foi uma “escolha conveniente a David, que se manteria como rei sem ter qualquer parente de Shaul concorrendo ao trono com ele!

    Registrou-se na história como se o povo buscasse vingança.

    Mas sabemos pela própria Torá que o Eterno jamais iria contra contra o que Ele mesmo determinou em Devarim (deut) 24:16.

    Devarim (deut) 24:16
    16- Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos, em lugar dos pais; cada qual será morto pelo seu pecado.

    A situação de david possui um importante “AGRAVANTE”!

    David fez um juramento ao Rei Shaul, diante do Criador muito tempo antes, afirmando que não faria mal algum aos descendentes de Shaul!!

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    • Edino,
      Primeiramente, nossos agradecimentos por você ler e comentar em nosso blog. Deus seja louvado!
      Aprecio o modo como você considerou o artigo. Lamento quando atribuem a Deus a morte de qualquer pessoa, ou família ou nação.
      Meu irmão, o artigo “Calamidades naturais: atos de Deus ou de Satanás?” é esclarecedor. Contribui.

      Carlos Bitencourt
      Cascavel-Paraná

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      • Adilson Alves Alves disse:

        bem na tora também esta escrito, em shemot,34 v6 e 7, que o Eterno visita a maldade dos PAIS nus FILHOS ,da primeira segunda e a terceira geração..
        e quando o Nevim vai a casa de Dave ele fala exatamente isso que o propio Dave meleh sofreria as conssequençias OS FILHOS DE DAVE PAGARAM COM SUAS VIDAS PELO PECADO PAI ta nu tanar

        portanto tudo dave fez tem respauda na lei de mosher sim

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    • Carlos Viana disse:

      Levítico,cap’24/21,22

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    • Euridio disse:

      Isso me gera muitas dúvidas na comoriensão, pois tem mesmo muitas referências falando que o Filho não pode pagar pelo pecado do pai, mas que também visita a maldade dos pais nas suas gerações.

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      • Eurídio, é certeza que você não paga os meus pecados, é certeza que os meus filhos também não pagam os meus pecados. Só Jesus para resolver esse problema. Porém, é certeza que meus pecados respingam sobre os que estão a minha volta.

        Assim como eu influencio para o bem, também influencio para o mal. Nesse sentido, o mal que faço pode ser que seja copiado por meus filhos, e, então, assim como Deus cobrará os meus pecados, também cobrará os pecados deles, cujas práticas pecaminosas pode ser que tenham sido por mim ensinadas.

        Mas também é possível que eles sofram agravos de saúde ou de escassez financeira em razão de escolhas erradas que eu faço agora.

        Deus o abençoe, meu irmão. Seja feliz com sua família e sua igreja local.

        Carlos Bitencourt
        Cascavel-Paraná

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  4. Franklin Santos disse:

    Muito boa a explicação DEUS abençoe.

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  5. Lindinalva Oliveira Coelho disse:

    Lendo hoje, ( 7 de janeiro 2021 ) e ainda aprendendo com um texto de muito tempo postado. Isso significa que a Palavra do nosso Deus, é mesmo uma fonte inesgotável de sabedoria. Grata por esse texto. Deus abençoe.

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  6. Ady Lima Vargas . disse:

    Considerando que um pacto juramentado pelos oficiais era muito importante e se querado tinha as penalidades , entedemos que o Rei Davi na tentativa de reparar a quebra do Pacto , fez o que deveria fazer.

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  7. Jessé disse:

    Parece que deus está aceitando sacrifício humano, ou a própria natureza, pois esta nao queria produzir. “Misericórdia quero e não sacrifício “.

    Caia eu nas mãos de Deus, pois Deus é misericordioso!!!

    também preciso usar esta misericórdia com o meu próximo.

    Único “ensinamento” que vejo neste texto é a mesma frase da política de hoje; “para os amigos favor, para os inimigos aplico a lei”, não há ensinamento de edificação dessa forma, disse Jesus: não sabei vós de que Espírito sois?!

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